São Tiago (Maior)

Sao-Tiago São Tiago (Maior)

O patrono proposto para a II Secção é São Tiago [Maior], que viveu os principais valores que se pretende transmitir para os escuteiros nesta faixa etária

Notas Biográficas

Por vezes designado como São Tiago Maior (para distinguir do outro Apóstolo chamado Tiago), este santo da Igreja, filho de Zebedeu e de Salomé, e irmão de João, foi escolhido por Jesus Cristo para ser um dos Doze Apóstolos. Os dois irmãos, provavelmente por causa do seu carácter colérico, eram chamados «Boanerges», isto é, «Filhos do Trovão». Tal como o seu pai, eram pescadores no mar da Galileia, originários de Cafarnaum, onde também André e Pedro trabalhavam.

Sabe-se também, pelos próprios dados evangélicos, que foi um dos mais próximos de Jesus, mesmo dentro do grupo mais restrito dos Doze, já que esteve na ressurreição da filha de Jairo, na Transfiguração e na Agonia no Horto das Oliveiras de forma peculiar.

Testemunha das aparições do Senhor Ressuscitado e da Sua Ascensão, recebe o Espírito no dia de Pentecostes. Na Sagrada Escritura, a última referência que se faz a Tiago é justamente a da sua prisão e morte, às mãos de Herodes Agripa, novo rei da Judeia, que o mandou passar à espada, provavelmente no ano 44 da nossa era, em Jerusalém.

Tanto quanto se sabe até ao momento, os relatos dos atos concretos da sua vida e atividade enquanto Apóstolo encontram–se relatados fora da Sagrada Escritura e são apenas parte da Tradição da Igreja, com posteriores adições lendárias.

Nesses relatos, conta-se que Tiago, saindo de Jope, na Judeia, teria vindo até à Hispânia, para evangelizar, tendo desenvolvido atividade sobretudo na Galaecia (Galiza) e na zona hoje correspondente a Aragão. Aqui teria deixado, segundo a lenda, estabelecidos alguns bispos, e teria também tido uma visão da Virgem Maria, em cima de um pilar, em Caesaraugusta (Saragoça) e que lhe teria pedido para ali lhe fazer uma capela. Na Galaecia, a sua pregação teria deixado muitos cristãos. A Igreja de Braga, capital daquela província romana, reclama-se de fundação apostólica, por o seu primeiro bispo, mais ou menos lendário, Pedro de Rates, ter sido discípulo de Tiago.

Da Galaecia, Tiago teria regressado à Judeia, tendo sido morto da forma que vem relatada nos Atos dos Apóstolos, ao «fio da espada».

Lenda Hispânica

De acordo com a forma mais conhecida de uma lenda hispânica, Atanásio e Teodoro, hispânicos de origem, teriam levado o corpo de Jerusalém, numa barca, até Padrón, a poucos quilómetros do local onde hoje se ergue a cidade de Compostela. Ali, teriam pedido à rainha Lupa, uma chefe tribal mais ou menos romanizada, um local para o sepultarem, e esta, tendo-lhes dado uma parelha de touros selvagens para puxarem o carro com o corpo do Apóstolo, tentando gozar com o esforço dos dois, apercebeu-se que os dois animais se comportavam como bois mansos. Onde estes pararam, aí o sepultaram, tendo a própria Lupa, agora convertida, oferecido o mausoléu.

A Peregrinação Jacobeia

Com a fama, e com os favores pontifícios, os peregrinos começam a afluir, em verdadeiras multidões, à Galiza, criando assim o primeiro itinerário verdadeiramente europeu, onde a
Europa se fez, espiritual e culturalmente. Ali acudiam penitentes em busca do perdão das suas faltas, ou cavaleiros em busca de aventuras (como o pai do nosso primeiro rei, Henrique de Borgonha) ou viajantes ilustres ávidos de conhecimento. Os itinerários principais acabaram por ficar mais ou menos cristalizados a partir de uma certa época, e as estruturas de apoio a tantos peregrinos dariam modelos às albergarias, hospitais e hospedarias do resto da Idade Média e Moderna.

O Caminho de Santiago ficou como o caminho de peregrinação por excelência, mais até que a própria ida a Jerusalém ou a Roma em certas alturas da Idade Média.

Ordem de São Tiago da Espada

Para proteger os peregrinos que iam a Santiago de Compostela, surgiu em Leão, em 1171, uma milícia de cavaleiros, que viviam comunitariamente segundo a regra de Santo Agostinho, e cuja função foi depois redefinida para reconquista das terras hispânicas aos muçulmanos e sua defesa posterior.

Esta Ordem, chamada primeiro dos Cavaleiros de Cáceres (a segunda sede) e depois de Uclés (a segunda e definitiva), colocou-se debaixo do patrocínio do Apóstolo São Tiago, tomando poucos anos depois o nome de Ordem de São Tiago (nos reinos espanhóis) e de Ordem de Santiago da Espada (em Portugal).

Por causa da sua faceta guerreira, a insígnia da Ordem, presente na representação heráldica da maior parte dos municípios e outras autarquias do sul do Tejo, que foram até ao século XIX terras de posse da Ordem, é uma cruz-espada púrpura.

Em Portugal, a devoção medieval ao santo, sobretudo em zonas de Reconquista ou de Caminho de Peregrinação, era enorme, comparável à que hoje podemos verificar para os chamados santos populares.

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